Icaro

Era um garoto tão curioso
De olhar tão radiante
Buscando conhecer o mundo
Com um ardor contagiante

Cresceu e apaixonou-se
Pela vontade de desbravar
Queria tudo saber
Queria a tudo tocar

Eis que num dia qualquer
Partiu na sua jornada
Em busca do desconhecido
Do que aparecesse na estrada

Gritando dizeres ao vento
Berrando pro mundo ouvir
Protestando por atenção
Reclamando que estava ali

E o mundo, com seu sádico sorriso
Propôs-lhe um trato
Mostrar-lhe-ia tudo à frente
Em troca de um valor exato

Quanto mais lhe revelasse
Mais perderia a visão
E invés das vivas cores
Só lhe restaria saturação

“Depois de tudo ver
Nada vai me sobrar
Então de que me adianta
Poder ou não enxergar?”

E sem pensar duas vezes
Concordou com a cabeça
Esperando ansioso
Por receber sua recompensa

O mundo então despiu-se
Revelando sua beleza
E para além de tudo isso
Medo, lamento e tristeza

Abalado com o que viu
Pôs-se a chorar de joelhos
“Não sou como tu pensas – disse
Não sou como em teus anelos

E observa bem, garoto imaturo
Observa com atenção
Pois de onde agora saem lágrimas
Só restará a escuridão”

E enquanto as lágrimas escorriam
Sua visão foi ficando turva
E sem dizer mais uma palavra
Deixou-se banhar pela chuva

A água varreu sua raiva
Junto às gostas que estavam caindo
E como se só agora tivesse entendido
O garoto cego seguiu o caminho sorrindo.




Le' Ferdinand

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