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No âmago do caos diurno, em pleno Centro movimentado, descubro-me estagnado, observando a pobre senhora cega sentada a beira da calçada, cantando um cordel de seu sofrimento, suplicando em vão, por uma ajuda que lhe permita viver com tal moléstia. Ao seu redor, pessoas e mais pessoas. Não tinham face, eram apenas rastros esquecidos e indiferentes aos olhos dos demais. Sua voz seca parece alcançar os ouvidos daqueles que passam, mas não é suficiente para lhes fazer pingar um mísero trocado no copo de alumínio postado bem onde as baratas fazem curva.
Preocupados apenas consigo mesmo, aquelas criaturas andam de um lado a outro, feito formigas que, com extrema maestria, esgueiram-se por entre a multidão, sem esbarrões, cumprimentos ou olhares. O ruído estrondoso do carro de som que passa sobrepuja aquela voz cansada, abafando-a, incitando-a a desistir. E quando a esperança esvai-se e a canção ameaça perder o compasso, o som do dinheiro miúdo no copo entoa a deixa para a música prosseguir. E assim, a vida continua...
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Thiago Ramos
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