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Caminhando a lentos passos, na noite erma e sombria, me peguei observando singular figura a passear. Mesmo a distancia de uma rua, pude perceber, em pavorosa inquietação, suas feições sepulcrais, suas madeixas embaraçadas e seu vestido turquesa arrastando pelo chão. Meus olhos não pararam de fitá-la, havia algo de familiar naquele ser espectral. Meus passos já não respondiam, e, mesmo com os joelhos trepidando, pus-me a segui-la, atraído por seu feitiço. Seria Annabel, fruto de meus pensamentos, ou seria Virginia, algoz de meu sofrimento?
Senti algo roçando em minha perna – a quebra de meu sonolento torpor. Assustado, fitei o fruto de tal assombro e um suspiro de alívio saltou de meus lábios – era um gato preto que buscava aconchego, era isso e nada mais. Devo ter bebido além da conta! – procurei uma justificativa que me devolvesse a calma. Não me foi o suficiente.
Nos passos seguintes, histórias de retratos ovais, cartas roubadas, crimes não resolvidos, mortes rubras e besouros de ouro – devaneios que se refletiam nas janelas das casas que acompanhavam meu trajeto. Não adianta, – dirigi ao gato preto que ainda me seguia – já atravessei a tênue linha entre o real e a fantasia.
Fechei os olhos por um breve instante, inspirei profundamente e, com o ar que preenchera meus pulmões, sussurrei o meu lamento: Quando esse tormento ira terminar? Uma pena negra caiu diante dos meus pés. Olhei para cima e vi elegante e soberba, a espectral figura de um corvo planando sobre minha cabeça. E com um grasnar que me gelou a alma, ave disse: Nunca mais!
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Thiago Ramos
*Edgar Allan Poe foi um dos maiores escritores do terror, suspense e tramas policiais, seus contos são mundialmente famosos e influenciaram o estilo de muitos outros escritores.
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