Certa vez um homem quis descobrir o sabor das nuvens. Pensando consigo, resolveu construir uma escada, mas uma escada tão grande que o levasse até lá.

Mestre da terra e mata, conhecia muito bem todas as árvores da floresta, podia, então, escolher uma boa madeira para tal fim.

Escolheu uma área bem vasta, onde tinham muitas da árvore que escolhera. Pegou o velho machado e o afiou, lavando-o com água da cisterna. Encheu a cabaça com água do pote e saiu.

Trabalhou duro o dia inteiro, só parando para beber água. O suor cobria-lhe o corpo, terra e estilhaços de madeira grudavam na pele e roupa. No fim da tarde, já fadigado, toma o rumo de casa a passadas largas, a fim de evitar a noite. No meio do caminho, uma inesperada chuva lava-lhe a sujeira do corpo, aliviando-lhe o espírito. Ele corre sorrindo.

Todo o verão chuvoso seguiu-se desta maneira. O machado do homem nunca tinha trabalhado tanto. Pouco a pouco a paisagem foi mudando, de forma que muitos pedaços de terra voltaram a sentir o forte brilho dos raios de Sol. Sentiram também a lúgubre e gélida canção Lunar – o orvalho molhou-lhes a face.

O homem tirava a madeira boa, guardando-a em segurança, enquanto o que sobrava ele punha fogo. Fazia isso com dedicação, pois aproveitaria a terra limpa e plantaria ali.

Agora se podia ver, até onde a vista alcançasse, apenas cinzas e poucos troncos negros.

Ele armazenou toda a madeira e foi trabalhar na lavoura. Plantou e esperou a chuva, que veio sem obstáculos e tudo molhara. Trazendo mais uma vez vida e verde àquela terra.

Após a colheita e alimentar-se bem, o homem resolve retomar seu trabalho com a escada, ele há de prova das nuvens.

Sua cisterna está novamente cheia, a água vai durar toda a seca e ele poderá trabalhar em paz.

Cortou, juntou, poliu, pregou, talhou. Fez incansavelmente este trabalho inúmeras vezes, até que, finalmente, a terminou. Uma escada alta e forte, agora poderá realizar o fetiche de descobrir o tão elevado sabor das nuvens.

Mais uma vez elas voltam, o quente do verão torna o céu, antes limpo e azul, um palco de tantas variadas formas e tamanhos, embranquecendo e acinzentando-o, de forma que o homem poderia prolongar o quanto quisesse sua jornada pelos gostos que iria provar.

Escolheu, então, um dia tão nublado como pudesse imaginar e armou o equipamento que lhe proporcionaria uma enorme satisfação. Arrumou um saco no ombro e se pôs a subir.

“Eu hei de levar um pouco para todos provarem também.” Disse consigo, enquanto rumava para cima com tanta empolgação que nem se deu conta de que logo chegaria lá.

Enfim chegou. Tirou um pedaço da nuvem e saboreou-o. Com um olhar indiferente, engoliu e disse:

- É só água.

Rapidamente desceu, sentou-se por um momento – parecia pensar.

- O que vou fazer com toda essa madeira? – finalmente disse, olhando-a de baixo a cima. Depois entrou em casa e acendeu a luz, pois já era quase noite.

Rogério Narciso

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