Contam que certa vez um homem
resolveu abrir a caixinha guardada no fundo de seu coração. Um baú com um tipo
único de tesouro, mais brilhante que qualquer esmeralda, mais raro que qualquer
diamante. De lá, tirou uma infinidade de formas, cores e luzes, e as espremeu
sob um molde de palavras jamais ditas a alguém.
O homem, certo de sua atitude, entregou
cuidadosamente aquelas rimas a quem creditou o devido merecimento. “Não existe,
existiu e existirá outro alguém mais merecedor de tais palavras!” – ou assim supôs.
Os versos então foram lidos em voz alta, arrancaram um breve sorriso e foram
soprados pelo vento.
Atônito, o homem apenas pode
observar sua valiosa métrica dissipando-se no ar, diante de si, tão efêmera e
insignificante. A ponta dos dedos comprimiu-se de forma involuntária e os
lábios moveram-se buscando o som, mas nem o menor dos tons conseguiu encontrar caminho.
Quando o sopro do acaso cessou
seu assobio, o homem lançou-se desesperadamente no chão, tentando catar o
precioso bolo de vogais e consoantes, agora espalhadas pela areia. Escavou a
terra por horas, abaixo de uma cortina empoeirada de desesperança, mas mesmo
com tanto esforço, as palavras continuavam incompletas.
Quando se deu por vencido e
ergueu o corpo cansado, trazendo junto a si o que restara de sua poesia, o
homem esbarrou com um rosto feminino, também tomado pelo desanimo. A moça
protegia junto ao corpo alguns versos surrados, incompletos. Os dois trocaram
um olhar de estranhamento, seguido por um longo silencio de resguardo.
Percebendo a incompletude nos
versos daquele à sua frente, a moça limpou uma de suas palavras no vestido e a estendeu-lhe,
tímida. O homem então sorriu. E sem que nenhum dos dois percebesse, daquela
pequena ação nasceu o mais belo verso de amor.
Shinji
Bom, eu poderia terminar com um
final diferente, mas sejamos sensatos, até este pobre coitado tem o direito de
ser feliz...
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