"Maçã na macieira, pêra na pereira, vida na videira"

- Algum problema, moça? – parei, quebrando o ritmo constante que até então empenhava em manter na costumeira caminhada que fazia logo após sair do serviço, todo fim de tarde – boa forma de escapar do stress do dia-a-dia. Já de longe havia percebido a moça, cabisbaixa, defronte a árvore “dos namorados” – a mais velha das árvores do parque era assim chamada por ser onde os apaixonados marcavam seus nomes, fazendo juras de amor eterno.

Ela levou as mãos ao rosto, enxugando as lágrimas que nasciam nos olhos e morriam ali mesmo. Olhou-me com a raiva que se olha quando tentam descobrir algo que não deve ser relevado – notei pelas sobrancelhas curvadas. Mexi os lábios, mas não achei as palavras que queria, e, antes que pudesse encontrá-las, ela apenas virou e seguiu viagem.

Não pude esconder o aborrecimento, admito. A curiosidade, porém, foi quem falou mais alto. Tomei o lugar outrora ocupado por ela e busquei o motivo de tal tristeza. Entre nomes e corações, algo chamou minha atenção: Um verso entalhado encima o nome de um casal.



44 dias depois
44 gotas após
44 memórias, ruim
44 preces, olvido, enfim
44 erros, não meus
44 vezes... Adeus

Fiquei algum tempo imaginando possíveis interpretações para tais rimas; conclui apenas o que rosto dela já me dizia. Busquei alcançar o velho passo da caminhada e segui rumo, ainda pensativo. No fim das contas, se a velha árvore fosse testemunha apenas de sorrisos, não teria o direito que dizer que sabe o que é o amor.





Texto: Thiago Ramos


Versos: Le' Ferdinand

Nenhum comentário:

Postar um comentário